Confesso que não esperava o que encontrei neste livro.
Embora não tenha os mesmos problemas que Cecilia, consigo me identificar com
algumas das razões da insatisfação dela.
E sim, ver sua vida ser medida – e determinada – pela régua
alheia pode causar sérios danos a você mesma.
Céu sem estrelas – Iris Figueiredo – Seguinte
(2018)
Personagens: Cecilia Souza e Bernardo Campanati
A vida de Cecília tinha chegado a um ponto onde nada
funcionava: demitida, péssima relação com a mãe que priorizava o padrasto,
insatisfeita e se sentindo totalmente deslocada no mundo. Abrigada na casa de
amigos, começa a perceber que os sentimentos por Bernardo são além da amizade,
mas quando até isso sai dos trilhos, ela sente que nada mais – além da dor –
faz sentido. E que tipo de amanhã pode haver para quem não tem mais estrelas no
céu?
Comentários:
- Eu respondo a pergunta acima: não podemos desistir diante
dos problemas, porque todos eles passam. E no caso de Cecília – e assim foi no
meu – a orientação é buscar ajuda. Às vezes, não basta ter fé e esperar,
precisamos agir e contar com a orientação e o apoio de especialistas que vão
indicar as melhores formas de passar pela turbulência e sair mais forte dela.
Não vai ser fácil. Mas vai te tornar mais forte. Pode crer.
- Cecília era infeliz e tinha razões de sobra: nunca se
sentiu verdadeiramente amada, o que a fez duvidar do sentimento de todas as
outras, inclusive de quem gostava dela sem restrições. O mais cruel é que nem
ela se amava. Como poderia, se não tinha o conhecimento deste sentimento sem
alguma condicional “se eu fosse assim ou assado”. Sempre se sentiu deslocada
por causa de tudo que sempre ouviu a respeito da própria vida. Como ouvi
recentemente em uma palestra, a culpa – que a gente tem ou pensa ter – é a mãe
de todos os problemas: ela não nos deixa ser livres, nos prende ao remorso, faz
com que tenhamos uma visão correta de nós mesmos, nos deixa para baixo e
alimenta outros sentimentos semelhantes. Quem vai ser feliz se sentindo
indesejada, um incômodo, alvo da pena de todos e que só faz tudo errado?
- Ah, ela era infeliz por ser gorda. Não. Ela era infeliz,
isso fazia com quem não tivesse autoestima e aí vem o efeito dominó de se
sentir desconfortável no próprio corpo. E sempre se comparar com os outros e
sair perdendo na comparação. E ainda tem aquelas criaturas que,
intencionalmente ou não, ajudam a cimentar este pensamento com frases
“bobinhas” que vão onde mais doem (eu me vi dando kabongadas numa tia de Cecília em
alguns trechos da história. Sério).
- Não estou dizendo que é pra adotar a atitude oposta “eu me
amo, me adoro, não consigo viver sem mim”. É apenas para ter uma visão mais
realista de si mesma: não existe perfeição. O livro deixa isso bem claro ao
mostrar que os personagens são mais por trás das aparências: amei Rachel não se
deixar limitar por uma cadeira de rodas e amei ver que a família que Cecília
julgava ser perfeita tinha rachaduras graves.
- Você não precisa seguir padrões que são determinados pelo
mercado, por uma visão da sociedade. O maior valor do mundo está nas
diferenças: se todo mundo fosse igualzinho, que graça teria? Eu gosto do meu
cabelo maluco, gosto de usar óculos, detesto usar saltos e ai de quem tenta
sugerir o contrário. Nunca serei capa de revista, mas e daí? A gente tem que
filtrar o que ouve por aí, para não acabar doente de verdade. E tem gente que
se sacrifica de forma bárbara para atingir isso, sendo que nem era necessário.
Olhem os quadros do Renascimento Italiano e do Maneirismo: o modelo de beleza
feminina dos artistas era totalmente diferente do atual. Ou seja, se a beleza
está nos olhos de quem vê, façamos nossos olhos enxergar o que é realmente
bonito – e como diz em O Pequeno Príncipe: o essencial é invisívelaos olhos -,
não o que dizem ser.
- Por não ter esta base emocional e sentimental, Cecília
sofre. Por não encontrar apoio e se sentir sozinha, ela sofre. Por não
conseguir se adaptar, ela sofre. Por tentar ignorar tudo isso e fazer de conta
que vai passar magicamente, ela sofre. O livro vai mostrando o caminho que a
leva a não conseguir mais fugir de si mesma e como ela (não) lida com isso. A
situação de Cecília gera consequências dolorosas, lidando com a vergonha ainda
maior de si mesma, o fato de não conseguir se abrir nem com as pessoas em quem
confiava e no fato de que temia que todo mundo a considerasse louca. (Ignora os
sábios de plantão e os doutores formados em internet e procure alguém que ajude
a entender as causas, tratar as consequências: psicólogo, psiquiatra,
terapeuta. Sério. Faz muita diferença – para melhor)
- Por mais que algumas pessoas queiram realmente ajudar, é a
própria Cecília que precisará encontrar a forma de se dar um basta. Se nós
somos nosso próprio veneno, somos também a cura. Ninguém será capaz de fazer
com que a gente se sinta bem por mágica. Não existe bibidi babidi boo.
É algo que precisamos construir em nós mesmos. Cecília vai perceber que todo
dia é uma luta diferente, alguns são bons, outros são ruins, e tem aqueles que
são melhores, mas um fusca azul pode ter tudo que ela mais ama e inspirá-la a
seguir em frente.
- Músicas fazem parte da minha terapia e já comentei a
importância que o Il Volo tem na minha vida. Enquanto
lia a trajetória de Cecília, ouvi várias vezes uma música que é da Natalia
Jiménez com quem eles cantaram na apresentação do Latin Grammy em 2015.
Recomendo conferir, prestando atenção na letra!
Bacci!!!
Beta














Nossa, tenho este livro em casa e acho que vou passar na frente de um outro que estava para começar porque gostei demais da sua resenha. Adoro temas assim porque me identifico e acho que é importante assunto assim.
ResponderExcluirOlá, tudo bem?
ResponderExcluirConfesso que não conhecia o livro e a autora, mas de cara eu gostei muito da capa. A sua resenha ficou bem legal, curta e objetiva, mas infelizmente o livro não me despertou muita atenção.
Abraço!
Olá, Beta!!! Saudades do Literatura de Mulherzinha! Em breve passarei por lá!
ResponderExcluirQue resenha maravilhosa! Só tenho ouvido falar bem desse livro e estou morrendo de vontade de lê-lo. Creio que é um livro que eu preciso realmente ler. Os assuntos abordados despertam meu interesse e sei que irei me emocionar demais. Só preciso conseguir comprá-lo!kkkkk...
É incrível como nossos familiares, amigos, as pessoas que mantemos ao nosso redor podem nos jogar no chão se permitirmos. Às vezes não paramos para pensar no tipo de gente que deixamos estar ao nosso redor, conviver com a gente. E se já temos um problema, se necessitamos de ajuda para seguir em frente, se precisamos de um profissional que nos oriente, também precisamos acordar e dar um basta. Não só nos valorizarmos, mas filtrarmos melhor as coisas. O que faz bem e o que faz mal.
Eu conheço a Natalia Jiménez. Acho que ela é ou era de uma banda que gosto. Penso que ela que canta "Algo Más". Vou ouvir a música que você indicou.
Bjs!
Olá!
ResponderExcluirEsse livro está na minha meta de leitura. Vi algumas resenhas e o enredo me deixou completamente apaixonada. Adoro dramas, aprender com as dificuldades dos personagens e torço pra ver o crescimento e amadurecimento.
Certamente é uma leitura reflexiva e muito envolvente.
Beijos!
Camila de Moraes
"Se nós somos nosso próprio veneno, somos também a cura". Acho que essa é a frase que define tudo. Os estereótipos só nos atinge porque permitimos, é difícil entender isso e na prática é muito fácil se deixar levar pelas opiniões e pelos olhares, mas quando entendemos o que de fato importa e conseguimos alcançar a auto aceitação, o que está fora pouco importa. Amei seu texto, suas argumentações são inspiradoras. Esse livro será uma das minhas próximas leituras.
ResponderExcluirAbraços!
Nosso Mundo Literário
Olá, tudo bom?
ResponderExcluirEu ainda não li o livro, mas ele já estava na minha lista de desejados desde o seu lançamento. Depois da sua resenha, percebi que preciso começar essa leitura logo, pois eu sinto que vai mexer muito comigo. Apesar de não saber realmente como a Cecília se sente, às vezes é necessário sairmos da nossa zona de conforto e ler livros sobre outras realidades para aprendermos empatia e tentarmos entender o que o outro está sentindo. Às vezes podemos errar na maneira que tratamos o outro por não ter conhecimento que um comentário pode fazer em outra pessoa. Ninguém nasce desconstruído, mas aprendemos com o tempo.
Como você disse, precisamos procurar ajuda de um profissional. Além disso, ninguém é perfeito e não é certo nos medirmos diante de uma régua de outra pessoa. O que eu acho bonito ou legal, você pode não achar. Precisamos mudar a maneira de julgamos outras pessoas.
Espero que eu goste tanto dessa leitura como você. Acredito que será um livro inspirador e já coloquei na frente de outros desejados para conseguir ler logo <3
Enfim, adorei a postagem e agradeço a indicação :)
Abraços.
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirEu ainda não li esse livro, mas já tenho ele na estante e estou bastante ansiosa. Li outros dois livros da Iris e adorei o fato de que ela conseguiu inserir temas muito importantes em uma trama simples. Pelo que percebi da sua resenha, ela conseguiu fazer isso de uma maneira ainda mais profunda e sensível em Céu sem estrelas.
Adorei sua resenha, as reflexões que você tirou da leitura e que você trouxe para o post. Concordo com muitas coisas que você falou e me senti abraçada enquanto lia. Espero ler este livro em breve e tenho certeza que será uma leitura maravilhosa.
Beijos!