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Resenha - Jurema das Matas

em sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Jurema das Matas
Mônica de Castro
Pelo espírito Leonel
Editora Vida & Consciência
367 páginas

Pouco se sabe a respeito das entidades que se dispõem a trabalhar nos círculos espirituais da Umbanda. Muitas histórias são ouvidas, algumas envoltas em mistérios e superstição. O preconceito e a ignorância ainda pairam sobre esses seres, em sua maioria abnegados instrutores dotados de inteligência extrema e imensurável amor pela humanidade.
Jurema das Matas é assim. Com inigualável simplicidade e franqueza, desvenda quatro de suas encarnações, na tentativa de mostrar como o ser humano se ilude com falsos valores de conquista e poder. Da trajetória sangrenta e sofrida surge uma criatura dócil e infinitamente sábia, disposta a compensar seus desequilíbrios com o auxilio desinteressado aos irmãos de caminhada que formam a família humana.
É uma lição para todos nós, acostumados a eleger favoritos em função da vestimenta sutil com que se apresentam no mundo da matéria. A escolha do espírito que anima está história foi a da humildade para, através do exemplo, reafirmar em nós a crença de que somos e seremos sempre iguais. 
Desde que a Editora anunciou o lançamento do livro Jurema das Matas da escritora Mônica de Castro, fiquei ansiosa para ler essa história. Na verdade, são as histórias, pois o livro relata quatro vidas desse belíssimo espírito. Eu já tive a oportunidade de ler alguns livros da escritora e posso dizer que me envolvi com todas as histórias, onde são tratados diversos temas polêmicos que nos levam a reflexão.

Na primeira vida, conhecemos a história de Alejandro, um conquistador espanhol que utilizou as mais diversas barbáries para se vingar da esposa que o havia traído. Alejandro não aceitou a traição da esposa, e mesmo após a concretização da vingança, não conseguiu se esquecer do sentimento que a esposa o fez passar. Assim, se vingou da forma mais cruel das nativas que encontrava pelo caminho, estuprando e assassinando sem piedade. Mas através do sofrimento, ele entende todo o mal que fez ao próximo e inicia sua trajetória para acertar os erros. 

“Não falo do sofrimento como algo bom, mas necessário, na medida em que ainda não conseguimos acreditar no poder transformador do amor. Não digo que é preciso sofrer para alcançar algum tipo de elevação espiritual, mas também não podemos negar que é através do sofrimento que o homem vem conquistando novos valores.
[...]
É preciso viver para conhecer, experienciar para discernir, sentir para se libertar. Provar para poder dizer: eu não quero e não preciso mais disso.”

Na segunda vida, conhecemos a jovem cabocla Aracéli (antigo Alejandro) que reencarna para resgatar débitos do passado, onde sofrerá diversas torturas físicas e psicológicas nas mãos de Licínio. Essa foi uma das vidas que mais me deixou com o coração na mão. Quem já leu algum livro da Mônica de Castro sabe como ela consegue, de formar primorosa, fazer com que o leitor atinja os mais diversos sentimentos nas histórias. Cheguei a sentir raiva em uma página, e na outra derramar lágrimas de emoção.

Cada capítulo me deixava mais horrorizada com as atitudes de Licínio, assim como me admirava com a abnegação de Aracéli, que sofreu por muito tempo calada com medo do que Licínio poderia fazer. Uma história que me deixou emocionada e consegui parar a leitura em nenhum momento.

A vida de Aracéli não é nada fácil, e os momentos de sofrimento que vivenciamos junto com ela nos leva a refletir sobre o período dos bandeirantes e todo o extermínio que cometeram com o povo indígena apenas por ser diferente. 

“Às vezes é mais fácil nos colocarmos no lugar da vítima do que do algoz. Ser o coitadinho atrai a atenção e a simpatia daquele que nos rodeiam e criam, para o agressor, um aura de censura e reprovação.
[...]
Para nós, todos os atributos nobres. Para ele, a crítica e a condenação. Essa é mais uma das muitas ilusões pelas quais nos permitimos seduzir em nossas vidas.”

Na terceira vida, conhecemos um pouco mais sobre o período da escravidão no Brasil. Mesmo com poucos capítulos narrando sobre essa vida, já notamos o quanto está modificado o espírito de Alejandro, agora habitando o corpo de uma jovem negra. 

“Que arrogância é essa que nos faz pensar que somos absolutos, quando o desconhecido ainda ocupa a maior parte de nossas vidas? Como pode alguém que conhece tão pouco do Universo pretender ter a última palavra no sentindo da verdade?” 

E na quarta vida relatada conhecemos Eleonora, uma jovem esposa que unida com o marido inicia os trabalhos de caridade e amor ao próximo junto ao culto da Umbanda, ainda no início no Brasil. Não vou falar sobre religiões, pois não cabe a mim isso, já que cada pessoa é livre para escolher aquela que mais se identifica. Mas falo sobre as atitudes de humildade de um ser que iniciou um trabalho de orientação e ajuda ao próximo.

Eleonora ajuda diversas pessoas nos anos que trabalhou, assim como orientou as pessoas com que tinha algum débito no passado, nos dando um belíssimo exemplo de amor, humildade e caridade.

O que mais me atraiu na leitura, foi o fato que são narrados quatro vidas, mostrando assim a evolução de um grupo de pessoas. Nessas quatro narrativas notamos o quanto ainda “rotulamos” uma pessoa: por ela vir de uma família humilde, por ter educação, por ser branca, negra, por ter um título, por não ter cultura, por ter uma determinada religião... Os personagens sofrem por se deixarem levar por esses “rótulos” mantidos e aumentados pela sociedade. Ainda nos prendemos muito à aparência externa, esquecendo de notar como são os sentimentos dessa pessoa.

Não posso deixar de comentar o trabalho da editora com a edição que teve uma ótima revisão e diagramação perfeita, com detalhes visuais de encantar qualquer um. Fico a pensar que algumas editoras precisam ter o mesmo cuidado com a revisão dos livros dos autores nacionais, onde são vistos diversos erros. Mas isso anda sendo muito comum em qualquer livro, seja nacional ou estrangeiro, o que é uma pena.

Peço desculpas pela minha extensa resenha sobre o livro, mas quando uma história me toca, não consigo deixar de falar sobre ela. Convido a todos a lerem essa narrativa, onde senti as mais diversas emoções.
Boa leitura!


14 comentários:

  1. Oi, Ka.

    Adoro livros desse gênero também, mas são poucos os autores que leio.

    Alguns livros marcam muito e trazem belas histórias e ensinamentos.

    Não conhecia "Jurema das Matas" mas essas vidas que evoluíram me instigou muito.

    Obrigada pela dica. Adorei!

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  2. Confesso que nunca ouvi falar desse livro, mas me parece muito interessante, ainda mais sendo de autora brasileira. A literatura brasileira está ganhando grande espaço no universo literário. Isso é muito legal.

    parabéns pelo blog. Estou seguindo. Beijos.

    http://tudotemrefrao.blogspot.com/

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  3. Oi Carlinha!

    Eu leio poucos livros do gêneros, mas é por falta de tempo mesmo rsrs

    Quando eu gosto da sinopse, eu passo ele na frente na leitura. E foi o que aconteceu com o livro da Jurema. Linda história!

    Bjs

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  4. Oi Ágata!

    Sim, está ganhando um bom espaço \o/ Torcemos para que isso aumente rsrs

    Muito obrigado pela participação!

    Bjs

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  5. Nossa Ana..amei sua resenha...meus olhos encheram de lágrimas

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  6. O título é estranho, né?!
    Mas a história parece ótima! Eu não sou espírita, mas gosto desse tipo de literatura! Deve ser muito interessante acompanhar a evolução =)

    Beijos, Nanie - Nanie's World

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  7. Gostei da sua resenha, parece muito interessante a história !

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  8. Oi Nanie!

    Eu adorei esse livro, principalmente por relatar quatro histórias de um mesmo grupo de pessoas. Eu nunca tinha lido um livro assim kkk

    Bjs

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  9. Oi Dé!

    Muito obrigado!

    O livro é maravilhoso!

    Bjs

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  10. Oi Carla, o livro deve ser muito bom mesmo, sou espiritista e amo ler. vale também a dica de alguns livros maravilhosos; Aruanda, A História de Pai Inacio, Exilados por amor, Tambores de Angola entre outros. Abraços.

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  11. Estou louca para ler esse livro.Só Li o 1º Capitulo..
    Adorei o blog e estou seguindo =)

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  12. Já li eese livro é lindo, adorei como tratam a umbanda sem mistificações. Recomendo.
    Bj. Carla

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  13. Oi, por gentileza esse livro está disponível em pdf? Comecei a ler estou na metade mas não estou mais com o livro e estou louca pra terminar de lê-lo.

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